1823
Após o fim da luta pela Independência, em julho, mantém-se vivo o sentimento antiportuguês na província. Em novembro, a notícia da dissolução da Assembléia Constituinte por Pedro I leva a distúrbios populares contra portugueses (“mata-marotos”).
1824
OUTUBRO – Primeiro significativo levante militar após a Independência. Soldados do 3º Batalhão da 1ª Linha, chamado Batalhão dos Periquitos, tomam o quartel general e matam o comandante das armas da província. O 4º Batalhão e a Artilharia juntam-se a eles. O 1º e o 2º Batalhões permanecem obedientes e se retiram para organizar a resistência em Abrantes (norte da cidade). Em Salvador, fechamento do comércio, roubos, fuga de cidadãos. Os rebeldes não sabem o que fazer, enquanto os senhores de engenho do Recôncavo auxiliam as tropas legalistas acampadas fora da cidade. Após um mês de impasse, a revolta esmorece e o Batalhão dos “Periquitos” embarca para Pernambuco. Dois dos líderes são executados no ano seguinte.
1825
AGOSTO – Levante escravo em Cachoeira, prontamente sufocado. O líder, que se denomina “rei”, é aprisionado, e a “rainha” morre na luta.
1826
DEZEMBRO – Supressão do pequeno “quilombo do Urubu”, nas cercanias de Salvador. Uma mulher líder revela plano de atacar a cidade no Natal, com escravos e libertos nagôs.
1828
MARÇO – Escravos atacam armações – estabelecimentos de pesca da baleia – em Itapoã e rumam para Pirajá, saqueando e queimando. Detidos Por um destacamento de soldados; vinte escravos morrem na batalha.
1830
FEVEREIRO – O presidente da província, visconde de Camamu, é assassinado em pleno dia por um homem a cavalo.
ABRIL – Cerca de vinte escravos assaltam armazéns da Cidade Baixa, tomam armas brancas e seguem para um depósito de negros novos, podem obtém mais cem adesões. Na luta com uma guarnição de polícia são derrotados, depois perseguidos pelo povo. Mais de cinquenta morrem.
1831
JANEIRO – Marinheiros do vaso de guerra Carioca se amotinam, lutam com oficiais.
ABRIL – Notícias da “Noite das Gafarradas”, no Rio de Janeiro, reforçam sentimento antiportuguês. Dois oficiais do 2º Batalhão são presos, suspeitos de planejar um levante. Grande número de soldados e civis em armas toma o Forte do Barbalho e exige sua liberação, assim como a demissão do comandante das armas e de todos os oficiais nascidos em Portugal. O presidente da província demite o comandante e renuncia ao cargo. Rumores de assassínio de um comerciante baiano por um português provocam violência contra portugueses: muitos linchados, casas e lojas saqueadas. O movimento se estende a Cachoeira e Santo Amaro, no Recôncavo. Elaboram-se listas de portugueses que devem ser expulsos do país. A notícia da abdicação de Pedro I serena os ânimos.
O jornalista Cipriano Barata e outros são presos por perturbar a ordem pública.
MAIO – O Batalhão do Piauí estacionado na Bahia ocupa o Forte São Pedro e exige a demissão do presidente da província, João Gonçalves Cezimbra, e do comandante de armas interino, visconde de Pirajá, assim como a deportação de portugueses. Recebe apoio da “ralé”, enquanto a gente respeitável se junta aos dois batalhões de infantaria que permanecem leais. O conflito parece de novo iminente. Cezimbra e Pirajá renunciam; as autoridades comprometem-se a expulsar os portugueses, o que ainda não ocorre.
AGOSTO – O Corpo de Artilharia se revolta no Forte de São Pedro, exigindo melhor tratamento e alimentação. Sem conseqüências, apesar do apoio de “paisanos de condição inferior”.
OUTUBRO – Nova revolta do Forte São Pedro, liderada por oficiais de idéias federalistas. Também com simpatizantes civis, mas sem adesão do grosso da tropa.
1832
FEVEREIRO – Revolta federalista iniciada na vila de São Félix, vizinha a Cachoeira. Um grupo liderado por Bernardo Guanais Mineiro toma a Câmara Municipal de Cachoeira. Em sessão extraordinária da Câmara é apresentado um plano de federação para a província e nomeado um governo provisório. Os rebeldes proclamam a separação porque os habitantes “se acham oprimidos pelo presente governo da província, pelos portugueses seus sequazes e pelo partido ruinoso do Governo do Rio de Janeiro”. Seu plano contém 24 pontos: medidas liberalizantes em política e economia, reformas na administração e na justiça, medidas antilusitanas.
Grandes proprietários e autoridades se apressam em suprimir o movimento. Junta-se uma tropa, batizada como “exército harmonizador”. Os líderes rebeldes são presos, outros fogem. Os prisioneiros são enviados para o Forte do Mar.
1833
ABRIL – Os prisioneiros tomam o Forte do Mar, com ajuda da guarnição. Hasteiam uma bandeira azul e branca, apontam os canhões para a cidade. Desejam a rendição do governo e instalação do sistema federalista. Têm simpatizantes na cidade, sobretudo entre a população livre de cor. Polícia e Guarda Nacional patrulham a cidade. Corta-se a comunicação com o Forte. Colocam-se canhões nas encostas fronteiras. Intenso bombardeio entre o Forte e a cidade; vários prédios destruídos. Os rebeldes se rendem em alguns dias, são transferidos para um navio prisão. Com eles é encontrado outro programa federalista, constando 25 pontos. Basicamente o mesmo de 1832, com maior ênfase em questões sociais e econômicas (preocupação com crianças indigentes e uso racional da terra, por exemplo).
1835
JANEIRO – Liderados por escravos muçulmanos (“malês”), centenas de escravos saem às ruas de Salvador na madrugada do dia 25. Lutam contra tropas de polícia, guardas nacionais e civis armados. São finalmente derrotados pela cavalaria em Água de Meninos. Cerca de setenta caem mortos; matam nove pessoas. Sufocada a rebelião, as autoridades determinam investigações rigorosas e discriminações contra africanos lives. Mais de duzentos negros são levados à justiça. Ao fim, quatro são executados, 22 sofrem penas de prisão e galés, 44 penas de açoite. Mais de quinhentos africanos são expulsos para a África. Os rebeldes pretendiam eliminar os não africanos da Bahia, exceto os mulatos, que poupariam para servi-los. A revolta dos malês foi a culminância de três décadas de agitação escrava.
*Extraído da tese de mestrado em História “A Sabinada: A revolta separatista da Bahia – 1837”, da autoria de Paulo César de Souza, defendida em 1984, na Universidade Federal da Bahia