Prenúncios da Revolta (parte 1)

O que era para ser extraordinário tornara-se comum na Cidade da Bahia em meados da década de 1830. Boatos de novos levantes e rebeliões surgiam a todo instante. Cada vez mais as reuniões nos clubes revolucionários já não eram tão secretas.

Em 1837 os rumores tornaram-se avisos. O “cheiro” de revolta estava no ar. Porém só o Presidente da Província da Bahia, Francisco Paraizo, e o Comandante das Armas, Luiz da  França, pareciam não o notar com a devida clareza.

O Presidente da Província chegou a informar ao Rio de Janeiro, então Capital do Império, sobre os “boatos de desordem” que ameaçavam a precária estabilidade política da província. Ao que parece, a Corte não se sensibilizou com o aviso. Novo informe foi passado ao Rio de Janeiro três meses depois, dessa vez com anexos de um novo jornal em circulação, editado por Francisco Sabino Vieira, o “Novo Diário da Bahia”. Também no Recôncavo, havia o medo de uma revolta. Temor que pode ser confirmado no pedido do Juiz de Direito de Cachoeira que, em junho de 1837, solicitou armas e homens para sufocar uma possível revolta marcada para o dia 25 daquele mês. A revolta não ocorreu, nem tampouco as armas chegaram a tempo (foram entregues após o dia 25).

Contudo, numa época em que importantes revoltas aconteciam no Império, como a Cabanagem e a Farroupilha, dar demasiada atenção a rumores não fazia parte da pauta da agenda da Corte.

As reuniões nos “clubes” continuavam. Também aumentava a pregação entre os militares. Com o início do mês de novembro, chegaram as primeiras denúncias. Logo no dia 1º de novembro, um amigo do chefe de polícia o visitou em casa. Disse estar representando um outro amigo que preferia não se identificar. Relatou sobre os preparativos para uma “revolução” já em curso. Nessa mesma noite houve uma reunião dos conspiradores e o chefe de polícia, Francisco Gonçalves, disfarçado, seguiu para o local de reunião, que ocorreu na casa de um ourives nas proximidades da Piedade. Ao que parece não ficou muito próximo  da reunião, ou o lugar não estava devidamente iluminado. Já que ele não pôde identificar os conspirados e só distinguiu algumas de suas palavras, sendo algumas delas típicas de revolta, tais como: “maroto” (pejorativo para designar um português), “punhal” e “rusga”.

Para o chefe de polícia, isso já eram indícios suficientes para uma intervenção enérgica. Colocou doze homens armados nos arredores, e rumou para o Palácio do Governo. Lá ficou a bater em todas as portas por mais de uma hora, quando por fim foi atendido pelo Presidente Souza Paraizo. Logo expôs o problema ao Presidente e propôs duas opções para tentar evitar o pior. Primeira opção: prender todos que estavam no “clube”. Segunda: Embarcar logo a tropa para combater a Revolta no Rio Grande do Sul. Paraizo objetou sobre a ilegalidade da primeira opção e sobre a segunda ficaram de debater com o Comandante das Armas, que foi convocado. Porém, ao chegar, não adentrou no Palácio por imaginar a reunião já terminada. Todo o assunto ficou para ser discutido no dia seguinte…

Continua…

Tiago Lessa

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Tensões sociais: A escravidão urbana

A questão escrava sempre foi um problema para Salvador. Principalmente com o crescente número de escravos que viviam na cidade, os denominados “escravos de ganho”.

Esses escravos tinham mais liberdade devido ao seu modo de vida. Eles trabalhavam num determinado ofício, como por exemplo, barbeiro, carregador de água, como vendedor, dentre outras atividades. Depois de um certo tempo, previamente acertado, eram obrigados a entregar uma determinada quantia, em dinheiro, ao seu senhor.

Para o senhor de escravo esse acordo era muito vantajoso, já não era mais preciso se responsabilizar pelos meios de subsistência de sua “peça”, além disso, esse escravo de ganho era uma fonte de renda certa.

Com esse acordo também o escravo tinha vantagens. Com maior possibilidade de locomoção e ação, eles eram mais livres. Tinham que trabalhar, mas sabendo que mesmo que tivessem de entregar uma parte do ganho ao seu senhor, o resto era seu. Isso foi um diferencial enorme. Com o passar do tempo, muitos escravos conseguiam juntar dinheiro o suficiente para comprar a sua alforria. O que era muito mais difícil de conseguir na escravidão rural, onde essa liberdade e locomoção e, portanto, possibilidade  de obter ganho em espécie era muito mais restrito.

Entretanto, esse sistema tinha as suas tensões. Escravos pelas ruas, sem o devido controle sempre foi motivo de apreensão por parte dos habitantes. Muitas vezes, esses habitantes livres, eram os olhos e ouvidos dos senhores e autoridades. Eram eles quem denunciavam as atividades suspeitas dos escravos urbanos.

Porém mesmo com a liberdade ainda restrita, os escravos conseguiam se organizar. Como frutos dessa organização, diversas revoltas escravas foram deflagradas nas primeiras décadas do século XIX. Especialmente nas décadas de 1820 e 1830, momento que marcou o auge das rebeliões escravas em Salvador.

As principais revoltas escravas aconteceram em Salvador e em Cachoeira, todas prontamente sufocadas pelas autoridades militares e pelos senhores de engenho (não poucas vezes os dois se fundiam num só “corpo”). Dentre as várias revoltas que ocorreram nesse período podemos citar três exemplos, o levante escravo em Cachoeira, ocorreu em 1825, que foi rapidamente sufocado, os lideres  se autodenominavam “rei” e “rainha”, o “rei” foi preso e a “rainha” foi morta no combate. Outra revolta do período ocorreu em Salvador em 1830, onde cerca de vinte escravos assaltam armazéns da Cidade Baixa, neles conseguiram armas brancas e, em posse delas, rumam para um depósito de escravos recém-chegados, liberta-os, com isso obtendo mais de cem adesões. Em seguida lutaram com a guarnição, onde foram derrotados e perseguidos pelo povo, mais de cinquenta foram mortos. Por fim, a revolta que marcou o ápice desse momento de levantes, a Revolta dos Malês. Esses escravos islamizados pretendiam algo mais ambicioso do que os demais que participaram dos outros movimentos anteriores. Pretendiam fundar na Bahia uma monarquia islâmica, onde eles seriam os senhores, os brancos seriam mortos e os escravos “brasileiros” e mulatos livres seriam seus escravos. A revolta chegou a ser deflagrada em 25 de janeiro de 1835, porém durou poucas horas até ser sufocada pela cavalaria em Água de Meninos, Salvador. O que causou certa surpresa foi o nível de organização dos revoltosos, que chegaram a se corresponder por escrito, com diversos escravos em vários pontos da cidade e fora dela.

A Revolta dos Malês trouxe à tona com mais força do que nunca o terror  do “haitianismo”. O medo de que escravos tomassem o poder e acabassem com a ordem social vigente, tal como ocorreu no Haiti décadas antes (1791-1804), ficou demonstrado no rigor das medidas tomadas pelas autoridades civis e militares, durante e após a revolta. Durante os conflitos muitos escravos foram mortos, os sobreviventes foram presos (muitos deles no Forte do Mar) e, por fim, condenados a penas como deportação para a África, acoites, trabalhos forçados e pena de morte para os principais líderes.

Como podemos perceber, a tensão entre escravos e livres nesse período era uma constante. Abaixo da aparente tranqüilidade da Cidade da Bahia, podia a qualquer momento romper um levante escravo. Liberdade era o que ansiavam os escravos ou, como no caso dos Malês, profundas transformações sociais. Mas como a questão escrava foi vista na Sabinada, revolta liberal e republicana, organizada por profissionais liberais e militares, mas com amplo apoio de libertos e escravos em suas fileiras?

 

Tiago Lessa

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Referências e influências…

Os livros elencados abaixo até o momento foram as principais fontes de minha pesquisa. Com especial notoriedade para a tese de mestrado (e livro) “A Sabinada” de Paulo C. de Souza, que foi (e ainda é) minha principal fonte de informações, conforme quem leu livro pode perceber.

Outros dados presentes no blog foram coletados nas aulas de História da Bahia II, ministradas pelo prof. Dr. Alfredo da Matta e sua orientanda de mestrado Mª  Antônia Gomes. Também contei com a ajuda de amigos e colegas, além da internet, essa enorme rede de informações textuais e visuais (nem sempre confiável… mas qual fonte o é inteiramente?).

Bibliografia Consultada

·  AQUINO, Rubim Santos Leão de (org.). Sociedade Brasileira: Uma   História – Através dos Movimentos Sociais. Rio de Janeiro: Record, 1999.

·  BASILE, Marcello. O laboratório da nação: a era regencial (1831-1840). In.: GRINBERG, Keila (org.) & SALLES, Ricardo (org.). O BRASIL IMPERIAL. Volume II. São Paulo: Civilização Brasileira, 2010.

·  RISERIO, Antonio. Uma História da Cidade da Bahia. Editora: Versal, 2004.

.  SOUZA, Paulo César de. A Sabinada: A revolta separatista da Bahia: 1837. São Paulo: Cia das Letras, 2009.

.  TAVARES, Luis Henrique Dias. História da Bahia. São Paulo: Unesp, 2009.

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Cronologia breve das perturbações da ordem, 1823-35*

1823

Após o fim da luta pela Independência, em julho, mantém-se vivo o sentimento antiportuguês na província. Em novembro, a notícia da dissolução da Assembléia  Constituinte por Pedro I leva a distúrbios populares contra portugueses (“mata-marotos”).

 

1824

OUTUBRO – Primeiro significativo levante militar após a Independência. Soldados do 3º Batalhão da 1ª Linha, chamado Batalhão dos Periquitos, tomam o quartel general e matam o comandante das armas da província. O 4º Batalhão e a Artilharia juntam-se a eles. O 1º e o 2º Batalhões permanecem obedientes e se retiram para organizar a resistência em Abrantes (norte da cidade). Em Salvador, fechamento do comércio, roubos, fuga de cidadãos. Os rebeldes não sabem o que fazer, enquanto os senhores de engenho do Recôncavo auxiliam as tropas legalistas acampadas fora da cidade. Após um mês de impasse, a revolta esmorece e o Batalhão dos “Periquitos” embarca para Pernambuco. Dois dos líderes são executados no ano seguinte.

 

1825

AGOSTO – Levante escravo em Cachoeira, prontamente sufocado. O líder, que se denomina “rei”, é aprisionado, e a “rainha” morre na luta.

 

1826

DEZEMBRO – Supressão do pequeno “quilombo do Urubu”, nas cercanias de Salvador. Uma mulher líder revela plano de atacar a cidade no Natal, com escravos e libertos nagôs.

 

1828

MARÇO – Escravos atacam armações – estabelecimentos de pesca da baleia – em Itapoã e rumam para Pirajá, saqueando e queimando. Detidos Por um destacamento de soldados; vinte escravos morrem na batalha.

 

1830

FEVEREIRO – O presidente da província, visconde de Camamu, é assassinado em pleno dia por um homem a cavalo.

ABRIL – Cerca de vinte escravos assaltam armazéns da Cidade Baixa, tomam armas brancas e seguem para um depósito de negros novos, podem obtém mais cem adesões. Na luta com uma guarnição de polícia são derrotados, depois perseguidos pelo povo. Mais de cinquenta morrem.

 

1831

JANEIRO – Marinheiros do vaso de guerra Carioca se amotinam, lutam com oficiais.

ABRIL – Notícias da “Noite das Gafarradas”, no Rio de Janeiro, reforçam sentimento antiportuguês. Dois oficiais do 2º Batalhão são presos, suspeitos de planejar um levante. Grande número de soldados e civis em armas toma o Forte do Barbalho e exige sua liberação, assim como a demissão do comandante das armas e de todos os oficiais nascidos em Portugal. O presidente da província demite o comandante e renuncia ao cargo. Rumores de assassínio de um comerciante baiano por um português provocam violência contra portugueses: muitos linchados, casas e lojas saqueadas. O movimento se estende a Cachoeira e Santo Amaro, no Recôncavo. Elaboram-se listas de portugueses que devem ser expulsos do país. A notícia da abdicação de Pedro I serena os ânimos.

O jornalista Cipriano Barata e outros são presos por perturbar a ordem pública.

 

MAIO – O Batalhão do Piauí estacionado na Bahia ocupa o Forte São Pedro e exige a demissão do presidente da província, João Gonçalves Cezimbra, e do comandante de armas interino, visconde de Pirajá, assim como a deportação de portugueses. Recebe apoio da “ralé”, enquanto a gente respeitável se junta aos dois batalhões de infantaria que permanecem leais. O conflito parece de novo iminente. Cezimbra e Pirajá renunciam; as autoridades comprometem-se a expulsar os portugueses, o que ainda não ocorre.

AGOSTO – O Corpo de Artilharia se revolta no Forte de São Pedro, exigindo melhor tratamento e alimentação. Sem conseqüências, apesar do apoio de “paisanos de condição inferior”.

OUTUBRO – Nova revolta do Forte São Pedro, liderada por oficiais de idéias federalistas. Também com simpatizantes civis, mas sem adesão do grosso da tropa.

 

1832

FEVEREIRO – Revolta federalista iniciada na vila de São Félix, vizinha a Cachoeira. Um grupo liderado por Bernardo Guanais Mineiro toma a Câmara Municipal de Cachoeira. Em sessão extraordinária da Câmara é apresentado um plano de federação para a província e nomeado um governo provisório. Os rebeldes proclamam a separação porque os habitantes “se acham oprimidos pelo presente governo da província, pelos portugueses seus sequazes e pelo partido ruinoso do Governo do Rio de Janeiro”. Seu plano contém 24 pontos: medidas liberalizantes em política e economia, reformas na administração e na justiça, medidas antilusitanas.

Grandes proprietários e autoridades se apressam em suprimir o movimento. Junta-se uma tropa, batizada como “exército harmonizador”. Os líderes rebeldes são presos, outros fogem. Os prisioneiros são enviados para o Forte do Mar.

 

1833

ABRIL – Os prisioneiros tomam o Forte do Mar, com ajuda da guarnição. Hasteiam uma bandeira azul e branca, apontam os canhões para a cidade. Desejam a rendição do governo e instalação do sistema federalista. Têm simpatizantes na cidade, sobretudo entre a população livre de cor. Polícia e Guarda Nacional patrulham a cidade. Corta-se a comunicação com o Forte. Colocam-se canhões nas encostas fronteiras. Intenso bombardeio entre o Forte e a cidade; vários prédios destruídos. Os rebeldes se rendem em alguns dias, são transferidos para um navio prisão. Com eles é encontrado outro programa federalista, constando 25 pontos. Basicamente o mesmo de 1832, com maior ênfase em questões sociais e econômicas (preocupação com crianças indigentes e uso racional da terra, por exemplo).

 

1835

JANEIRO – Liderados por escravos muçulmanos (“malês”), centenas de escravos saem às ruas de Salvador na madrugada do dia 25. Lutam contra tropas de polícia, guardas nacionais e civis armados. São finalmente derrotados pela cavalaria em Água de Meninos. Cerca de setenta caem mortos; matam nove pessoas. Sufocada a rebelião, as autoridades determinam investigações rigorosas e discriminações contra africanos lives. Mais de duzentos negros são levados à justiça. Ao fim, quatro são executados, 22 sofrem penas de prisão e galés, 44 penas de açoite. Mais de quinhentos africanos são expulsos para a África. Os rebeldes pretendiam eliminar os não africanos da Bahia, exceto os mulatos, que poupariam para servi-los. A revolta dos malês foi a culminância de três décadas de agitação escrava.

 

 

 

 

 

 

 

*Extraído da tese de mestrado em História “A Sabinada: A revolta separatista da Bahia – 1837”, da autoria de Paulo César de Souza, defendida em 1984, na Universidade Federal da Bahia

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Sociedade baiana no século XIX: Conflitos, insatisfações e tensões sociais

Por séculos, desde o século XVI, vigorou na Bahia, principalmente em Salvador e na região ao seu redor denominada de Recôncavo, uma ordem social fortemente estratificada. No topo das classes estava o Senhor de Engenho, seguido pela classe dos plantadores de cana. Esses eram possuidores dos bens mais caros do período, terras e escravos. Possuir escravos era sinônimo de riqueza e status quo. Havia também os homens livres, muitos deles pobres, viviam da prestação de serviços que faziam aos senhores de terras ou viviam em terras arrendadas, outros eram comerciantes, trabalhadores mecânicos e profissionais liberais. Também encontramos nessa sociedade os livres de cor, ex-escravos que conseguiam a sua alforria. E, por fim, temos os escravos, que eram trazidos de África, além dos nascidos em terras americanas.

Nessa sociedade, os Senhores de Engenho eram a lei e a ordem em suas áreas de influência. Muitos deles tinham força política ativa, inclusive na Câmara Municipal de Salvador.

Contudo, esse estado de coisas começa a mudar a partir do século XIX, quando o poder político passa a se centralizar cada vez mais no Rio de Janeiro. Lembrando que desde 1763, Salvador tinha deixado de ser Capital da Colônia, que passou a ser o Rio de Janeiro. Mas essa centralização se faz sentir, principalmente, com a chegada da Família Real Portuguesa (1808), iniciando assim, o processo de interiorização da Metrópole. Com a Independência (1822) o poder político continua emanando do Rio de Janeiro, causando muita insatisfação por parte das elites baianas, dos profissionais liberais e militares. Com a abdicação de D. Pedro I em 1831, e a instalação da Regência, a situação não mudou. Os cargos de maior hierarquia militar e política eram escolhidos por dirigentes no Rio de Janeiro.

Todavia, por volta da década de 1830, em Salvador e no Recôncavo a ordem social ainda era patriarcal e escravista. Porém, cada vez mais ganhava força uma nova elite, esta, burguesa, fundada no capital mercantil e do tráfico de escravos. Por essa época, os profissionais liberais irão questionar a predominância social e econômica dos Senhores de Engenho. Causando fortes tensões sociais.

Somando-se a esses fatores, temos a crise econômica da Bahia, principalmente em Salvador. Com a crise da economia, sobreveio a inflação e a desvalorização da moeda. Os salários dos profissionais liberais e os soldos dos militares não acompanhavam os aumentos dos gêneros de primeira necessidade, causando assim, mais insatisfações. Outro problema era a falsificação da moeda de cobre, fato que ocorria desde a época das Guerras de Independência da Bahia.

Além desses fatores há ainda a questão dos escravos. A população soteropolitana vivia em constante medo de uma grande revolta escrava, nos moldes da que aconteceu no Haiti. Medo esse que se tornou pânico com a Revolta dos Malês em 1835. Revolta que, mesmo sendo rapidamente reprimida, causou alarde na cidade e repercutiu nas demais províncias.

Enfim, a Salvador da década de 1830 era um barril de pólvora. O clima de revolta estava no ar. Os boatos de levantes já eram corriqueiros. Diversas revoltas ocorreram nesse período, a maioria feita por militares. Essas revoltas ficaram conhecidas como Federalistas, e o Forte de São Pedro, em Salvador, foi palco de algumas dessas revoltas. Outra revolta importante desse momento foi a dos Guanais que, embora tenha se iniciado na cidade de São Felix (no Recôncavo), termina por desdobrar no Forte do Mar (onde o seu líder estava preso) com o bombardeio de Salvador pelos revoltosos, em 1832. Poderíamos dizer que essas revoltas foram uma espécie de “ensaio“ para a Sabinada? Ou a Sabinada foi fruto da ação, praticamente isolada, de um grupo de intelectuais utópicos que contaram com o apoio de alguns setores das forças armadas?

 

Tiago Lessa

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Contextualizando: O Império

Lembro-me que, desde meus primeiros anos na escola, uma das figuras que mais tive contato foi o mapa do Brasil. O Brasil subdividido em Estados e estes agrupados em macrorregiões… Evidentemente não podemos nos esquecer do nosso Distrito Federal. Em minha cabeça de criança parecia que o Brasil sempre fora assim…

Anos depois me impressionava com a grandeza de nosso país se comparado com nossos vizinhos da América do Sul e, a posteriori, com outros países do mundo.

Sabemos que cada país teve sua própria história de formação e desenvolvimento. A todo momento territórios são redefinidos em todo o planeta.

E a pergunta que sempre me fiz é a seguinte: “E o nosso Brasil? Sempre foi assim com esse tamanho continental e fronteiras tão definidas?”

Na década de 1830 toda essa grandeza territorial estava ameaçada. As diversas províncias que compunham o Império do Brasil estavam insatisfeitas com a crescente concentração do poder no Rio de Janeiro.

A década de 1830 já tinha se iniciado com a renuncia de D. Pedro I em favor de seu pequeno filho D. Pedro, então com cinco anos. Assumiu um governo provisório, de acordo com a Constituição de 1824, denominado de Regência. Essa Regência seria trina e provisória até a eleição de uma nova Regência, essa sim, permanente.

No período que ficou conhecido como Regencial, houve tentativas de mudanças políticas e administrativas no Império por parte dos liberais. Umas das primeiras medidas foi a limitação dos poderes da própria Regência, numa tentativa de sobrepor o Legislativo sobre o Executivo. Era uma forma de tentar limitar o Quarto Poder, o Moderador, que era exercido, na ocasião, pela própria Regência.

Diversas outras medidas foram tomadas nesse período, não apenas no campo da política, mas também na área da segurança da unidade do país, com a criação da Guarda Nacional. No Judiciário foi instituída a formação do Júri. Além desses exemplos houve igualmente tentativas de conciliar as elites províncias que estavam insatisfeitas com a monopolização do poder na Capital do Império. Portanto, medidas visando a descentralização foram propostas. O problema era que nem sempre as lideranças regionais estavam sem sintonia com o governo central no Rio de Janeiro.

O clima de insatisfação crescia rapidamente por todo o Império, ameaçando transformar-se em Revoltas. Diversos setores estavam rancorosos com o governo central: lideranças políticas, militares, profissionais liberais, estancieiros, etc.

Essas Revoltas, se bem sucedidas poderiam por em xeque a unidade do Império do Brasil. A antiga América Portuguesa corria o risco real de se transformar num conjunto de nações individuais, tal como ocorrido na América Espanhola.

Agora, caro leitor e colega, pergunto a você, como reagiu a Regência Trina Permanente diante dessa crescente onda de insurreição? As reformas políticas, administrativas e judiciárias, surtiram efeito? E, por fim, quais as repercussões dessas tentativas de reformas na província da Bahia? Percebam que apenas falei de algumas das medidas. Conhecem outras desse período?  E mesmo as que citei acima, o fiz de forma superficial. Podemos enriquecer muito mais esse post graças a sua participação.

Obrigado,

Tiago Lessa

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Mapa do Brasil (séc. XIX), com ênfase nas Províncias revoltosas

A pacificação só ocorreu após Coroação do Imperador. Porém algumas provincias continuaram insurrectas por anos...

De Norte a Sul do Império: Diversas Províncias se rebelaram contra o poder central. As revoltas tiveram início nos primeiros anos do período Regencial e só foram sufocadas anos depois da posse de D. Pedro II, em 1840 (Golpe da Maioridade).

Créditos da imagem: http://ahistoriapresente.blogspot.com/2010/05/movimentos-sociais-no-periodo-regencial.html

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Abertura

Há exatos  173 anos e 05 dias, a Cidade da Bahia estava em alvoroço. No amanhecer do dia 07 de novembro de 1837 teve início uns dos mais importantes movimentos revolucionários da Bahia. Nessa alvorada de primavera, profissionais liberais, militares, dentre outros, declararam o rompimento com a Corte. Estava declarada a efêmera República Bahiense. Anseios e esperanças estavam no ar. A Ordem fora questionada. A sorte estava lançada. Centenas pegaram em armas para defender a República. Outros para reprimi-la. Salvador deixou de ser a Capital da Província da Bahia. O Presidente da Província passou a despachar em Cachoeira, no Recôncavo. Logo a cidade fora cercada pelas forças dos Senhores de engenho e por tropas imperiais. Nos meses que se seguiram baianos derramaram sangue de baianos…

 

Nos últimos dias prestei atenção nos veículos de comunicação e fiquei surpreso com o fato de nenhum deles tratar da Revolta Sabinada.  Pode ser que eu esteja enganado. Espero que sim…

Pouca atenção é dada a essa revolta que ocorreu numa época em que outras tantas explodiam pelo Império do Brasil. Muitos soteropolitanos, na maior parte das vezes, já ouviram o termo “Revolta Sabinada”, mas pouco ou nada sabem o que foi essa tentativa de revolução na cidade do Salvador, e por consequência, na Bahia.

Enquanto que em outros estados da federação como, por exemplo, o Rio Grande do Sul, as datas dessas revoltas regionais são lembradas com orgulho e reverência, na Bahia aparentemente reina a amnésia coletiva.

Portanto caro leitor e colega, dedico a você esse blog, nesse espaço discutiremos, trocaremos informações e melhor compreenderemos o que foi a Revolta Sabinada. Aqui falaremos sobre a época em que ocorreu a Revolta, seus antecedentes, a sociedade baiana e “brasileira”, classes sociais, tensões sociais, economia, política, escravidão…  Todos esses pontos estão intimamente ligados e entrelaçados.

Em alguns momentos darei o ponto de partida da discussão. Mas em outros peço que você o lance. Critique. Dê a sua opinião. Mandem-me suas próprias pesquisas que terei o maior prazer e postá-las aqui.

Enfim, sem mais delongas, lanço a questão com que abri este blog: “O que você ouviu falar sobre a Revolta Sabinada na semana em que esta fez ‘aniversário’? Viu algo na televisão, ouviu no rádio, leu no jornal ou revista, participou de algum diálogo entre familiares ou amigos?”

Aguardo sua contribuição.

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